![]() |
Aos seus 13 anos de idade, tem que abandonar os estudos e começar a trabalhar, devido ao falecimento de seu Pai.
Alfredo tinha um grande gosto pela representação, seguindo atentamente as cegadas, e foi a partir dessa altura que teve contacto com o meio fadista.
Conheceu Julio Janota, fadista improvisador, que era marceneiro de profissão e logo aconselhou o jovem Alfredo Duarte a seguir aquele trabalho, arrajando-lhe colocação como aprendiz.
Estreou-se aos 17 anos numa cegada corria o ano de 1908 e é num baile popular que se inicia a cantar fado, ficando logo o seu nome presente, por entre a rapaziada.
Quando da sua reforma em 1963, foi-lhe concedido o complemento à pensão de "mérito artístico", por proposta do Sindicato de Artistas de Variedades. Como é de calcular uma parca quantia.
Um grupo de amigos e admiradores, quando este se reforma, decidem fazer-lhe uma Homenagem a 25 de Maio de 1963, no Teatro S. Luiz:
A MADRUGADA DO FADO
Consagração e Despedida do Grande ArtistaALFREDO DUARTE MARCENEIRO
Que o Fado está na História do nosso Povo já ninguém o nega e Alfredo Marceneiro ficará para sempre a esta ligado, como previu Norberto de Araújo, quando sobre ele escreveu:
"O FADO TEM TIDO MUITAS MULHERES, ALGUMAS, MESMO, HEROÍNAS DA CANÇÃO DOLENTE E BONITA. HOMENS - SÒ UM:
ALFREDO MARCENEIRO. LIGOU O PASSADO AO PRESENTE, E COM A SUA ALMA ERRANTE, LUMINOSA E INGÉNUA, COLOCOU O FADO NUM PLANO DE "AUTO DO POVO", QUE FICARÁ NA HISTÓRIA DO NOSSO TEMPO."
Nesta Madrugada de Fado, que começou a partir da meia-noite e que durou até ao amanhecer, colaboraram muitos artistas seus amigos e admiradores, do fado e do teatro.
Guitarristas:
Raul Nery, Fontes Rocha, Francisco Carvalhinho, Acácio Gomes, Pais da Silva, João Bagão, e Dr. António Toscano;
Violas:
Armando Machado, Joel Pina, Júlio Gomes, Joaquim do Vale, Vitor Ramos, José Inácio, Fernando Alvim, João Gomes, Miguel Ramos;
Cantaram fados:
Adelina Ramos, Alberto Costa, Alfredo Duarte Júnior, António dos Santos,, Argentina Santos, António Melo Correia, Berta Cardoso, Carlos Ramos, Deolinda Rodrigues, Estela Alves, Fernanda Maria, Fernanda Peres, Fernando Farinha, Filipe Pinto, Flora Pereira, Hermínia Silva, Isabel de Oliveira, João Ferreria Rosa, Lucília do Carmo, Manuel Fernandes, Maria Albertina, Maria Amorim, Maria de Lourdes Machado, Maria Teresa de Noronha, Max, Mercês da Cunha Rêgo, Natércia da Conceição, Dr. Paradela de Oliveira Paula Valpassos, Sérgio, Teresa Tarouca, Vicente da Câmara e o homenageado ALFREDO MARCENEIRO;
Henrique Santana, José de Castro, Humberto Madeira, Paulo Renato, Raúl Solnado, Varela Silva.
Com música de Frederico Valério e letra de Guilherme Pereira da Rosa, é-lhe dedicado o poema que foi cantado por Fernanda Maria:
O Fado
Fado nascido em Lisboa,É voz de pena que soa,
Mágoa do peito vem...
O Fado
É Bairro velho que chora
Alfama que se enamora
E conta o amor que tem...
O Fado
É canto de Feiticeiro;
É Alfredo Marceneiro;
É um dom, uma expressão...
E é Fado
Guitarra que nos murmura
Tudo aquilo que perdura
Bem dentro do coração...
Ao Fado
Lisboa diz o que sente,
Vai nele a alma da gente,
Pois é esse o seu condão!
O Fado
Fado que invade a cidade,É nostalgia, saudade,
Mal e Bem, Sorte e Azar...
O Fado
É rumo de caravelas...
E somos nós e são elas
Que andamos a namorar...
É modo da nossa gente;
O passado e o presente,
O porvir - esse também...
Pois Fado
É este jeito, esta briga,
De chorar numa cantiga
Um amor, tudo - e ninguém...
E é Fado
Aquele encanto profundo
Que vai daqui pelo mundo
E que ao mundo soa bem!
A casa da Mariquinhas
perdeu metade da graça,- tiraram-lhe as tabuinhas
e, da guitarra, nem raça.
O fado, canção dorida,
já lá não tem "cabidela",e já nenhuma atrevida
chama por nós da janela.
Grotescos, hirtos, parranos,
nas paredes do salão,em vez de quadros maganos
há retratos a carvão.
e ela, a mulher, é bem bela!
Mas ele é que, por seu mal,
podia ser avô dela.
Vistosa, muito garrida,
sem domínio nem conselho,passa metade da vida
entre a janela e o espelho.
E há razões para temer
ao que rosnam as vizinhas,que a casa inda torna a ser
A casa da Mariquinhas
Para bem de todos os grandes amantes do fado, esta noite foi registada num Cd Inédito que tem o nome da festa de homenagem a Alfredo Marceneiro. Dentro deste cd, ouve-se as calorosas palmas de um publico que encheu o Teatro São Luis nessa madrugada para assistir a uma noite que ficará para sempre recordada na História do Fado.
Disco Inédito da noite de 25 de Maio de 1963, no Teatro São Luis designada pela Madrugada do Fado a Homenagem a Alfredo Marceneiro.
Atuação de Alfredo Marceneiro nessa homenagem a sua Carreira Artistica.
Felizmente para todos os seus seguidores, amigos e admiradores, não foi uma despedida, ainda, durante quase duas décadas continuou a deliciar-nos, cantando os seus fados com aquele estilo inesquecível. Muitos dos seus amigos diziam com carinho "Ti Alfredo" é como o Vinho do Porto, quanto mais velho melhor.
Quando o sol desaparecia no horizonte e os candeeiros já iluminavam a cidade, Alfredo Marceneiro saía tranquilamente de sua casa, envolvendo-se na noite, na magia da noite que envolve Lisboa como um véu de mistério. Sim, era na noite que ele aparecia. Era na noite que ele vivia o mundo onde ganhou fama e glória. A sua ronda nocturna, de todos os dias, pelas casas típicas, era talvez uma necessidade de se sentir estimado e acarinhado. Quando o ambiente era propício e havia muitas insistências, cantava. O Fado era, afinal, a sua vida inteira.
Ao fim da noite, Marceneiro abandonava os retiros de fado e regressava, satisfeito, para junto da sua querida "Tia Judite"...
Além dos netos Vitor e Valdemar que o acompanhavam assiduamente, muitos dos seus amigos o iam buscar a casa, transformando-se em parceiros das suas longas deambulações nocturnas, principalmente a partir dos seus setenta anos. Destes destaca-se o seu amigo, José Pargana que foi um exímio caricaturista como se pode verificar nas reproduções aqui impressas.
Também, durante os últimos anos da sua vida, foi seu grande companheiro o fotógrafo Leonel Lourenço. Grande artista na sua arte, algumas das fotos de Marceneiro aqui reproduzidas são da sua autoria. Leonel Lourenço mantém relações de amizade muito estreitas com o seu neto Vitor Duarte e aceita o convite deste para ser padrinho de baptismo de seu filho, sétimo bisneto de Marceneiro, a quem, em sua honra, foi posto o nome de Alfredo Rodrigo Duarte. Para o "Ti Alfredo" e como para a "Ti Judite", o Leonel Lourenço era como um filho.
Também o jovem José Pracana, por quem "Ti Alfredo" tem muito carinho, recíproco, o vai buscar a casa para o levar para o "Arreda" em Cascais, deliciando-se em ouvi-lo cantar e em especial com as suas análises e ditos oportunos. José Pracana, que canta e também toca guitarra, num estilo em que se nota influências do grande guitarrista José Nunes, fazia questão em acompanhá-lo à guitarra e quando Marceneiro estava renitente para cantar, ele conseguia dar-lhe a "volta". "Ti Alfredo" dizia muitas vezes " o Pracana é como se fosse meu neto".
O José Pracana imita-o muito bem a cantar, quer nos requebres de voz, quer nos gestos e Alfredo Marceneiro, que não gostava nada que o imitassem na sua presença, no caso do Pracana, ele próprio muitas vezes lhe solicitava que o fizésse. Era então vê-lo rir com prazer, pois sentia que tal lhe era dedicado como homenagem e, acima de tudo, feito com muito carinho.
De entre os seus muitos amigos, um há que, apesar de não ser um "companheiro assíduo de fadistices", sempre teve uma presença muito especial na sua vida. Refiro-me a Julio Vidigal Amaro "o Juleca", decerto o seu maior amigo, ficando esta biografia incompleta se o seu nome não fosse referido.
A morte de Alfredo Marceneiro
Com 91 anos, morria na casa onde nasceu, pelas 7 horas da manhã do dia 26 de Junho de 1982, o grande Alfredo Marceneiro deixando em sua vida, Familiares e amigos e deixando em todos os fadistas e amantes do fado, as suas noites gloriosas em que deixou qualquer pessoa que o escutava a cantar, rendido com tamanha interpretação.
Biografia aqui redigida, segundo palavras do site: http://www.alfredomarceneiro.com/
Sem comentários:
Enviar um comentário